#61 - Putos, biometria genital...
estamos de dia novo, e para celebrar hoje tá pegando fogo (além do clima)!
Putos x Petrus: a batalha 🥊
muitos conhecem os humoristas Danilo Gentili, Diogo Portugal e Oscar Filho, mas poucos sabem que eles lançaram um vinho, denominado Putos 🤣. o rótulo, para quem conhece, remete ao icônico (e carésimo) Chateau Petrus, da vinícola francesa de mesmo nome.
os homens de biquinho ajuizaram ação para proibir a distribuição e venda do Putos, acusando os comediantes de "desabonar" sua imagem com um rótulo irreverente.
de início, conseguiram decisão favorável. mas o Tribunal de Justiça de São Paulo derrubou a decisão que proibia a venda do vinho Putos.
a questão aqui é a seguinte: será que o Putos era mesmo uma ameaça, ainda que de reputação, a um dos rótulos mais caros e exclusivos do mundo? 🤔
comecemos por mostrar aqui ambos os rótulos.
ok, deu uma olhada?
por que isso importa? 💡
a polêmica do rótulo: a vinícola Petrus, referência mundial em vinhos de luxo, alegou que a marca dos humoristas era uma afronta à sua reputação. o problema? a palavra "Putos" e um rótulo irreverente que, segundo a empresa, "desabona" sua marca ao associá-la a um termo obsceno.
mas será que um vinho de nicho, voltado ao público brasileiro e claramente humorístico, pode mesmo confundir consumidores de um rótulo que custa mais de 60 mil Lulas? o argumento das importadoras do Putos foi exatamente esse: quem compra um Petrus não está procurando um vinho que custa menos de 100 Lulas, no caso do Putos.
a justiça paulista entendeu que impedir a comercialização do Putos traria prejuízos às empresas importadoras e à marca criada pelos humoristas, além de reforçar um debate sobre os limites entre propriedade intelectual e liberdade criativa.
para se aprofundar 🤿
o vinho Petrus vale o preço? produzido em Bordeaux, suas garrafas podem custar o valor de um carro popular, com vinhas cultivadas em um solo especial que não absorve água. um luxo reservado para poucos — e que dificilmente seria confundido com um vinho brasileiro de comédia de menos de 100 Lulas.
a briga do Putos não é a primeira disputa entre humor e grandes corporações, sendo que outras marcas já tentaram barrar produtos satíricos, mas nem sempre com sucesso. até onde vai a proteção da marca e onde começa o exagero?
no final das contas, 🍷
venceu o bom senso, ainda que de modo provisório. o Putos pode voltar às prateleiras, e a Petrus segue intocável no seu trono de luxo.
agora, não dá para deixar de dizer que toda essa polêmica só aumentou a curiosidade sobre o Putos. eu tenho certeza que sim, e talvez a atitude “não me toque” dos franceses tenha ajudando, sem querer, na publicidade do vinho brasileiro. todo mundo já deve ter ouvido: não existe publicidade ruim — especialmente quando envolve uma tretinha.
vida longa ao Putos! 🍷🔥
verificação genital eletrônica? 🐟🤯
imagine chegar ao banheiro do aeroporto e se deparar com um aviso de que ali estava ocorrendo procedimento de Verificação Genital Eletrônica (EGV).
segundo o aviso, o sistema utilizaria visão computacional e inteligência artificial para verificar se as pessoas estavam "no banheiro correto", substituindo inspeções manuais.
isso aconteceu no aeroporto de Aeroporto Internacional de Dallas-Fort Worth (DFW), lá na terra dos cowboys, que vivem causando polêmicas com suas medidas.
tá duvidando do anúncio? então dá uma olhada na imagem.
para uma pessoa de bom senso, é muito óbvio de que era tudo uma farsa, uma provocação…
mas a piada foi levada a sério por muita gente, o que talvez diga mais sobre o estado atual das políticas públicas no Texas do que sobre a credulidade dos usuários da internet. o Estado dos cowboys já anunciou uma investigação, e os responsáveis pelo cartaz podem enfrentar uma pena de até um ano de prisão e uma multa de US$ 4.000 pelo uso indevido do logotipo da agência.
enquanto isso, nos cantos menos distópicos da internet, tem gente já encomendando versões da placa para outros aeroportos. porque, sejamos honestos, se esse aviso fosse real, não seria tão surpreendente assim, ainda mais no Texas.
por que isso importa? 💡
se você achou que o caso se parecia mais com o roteiro de um episódio de Black Mirror para adultos, saiba que a polêmica reflete um debate muito real: a obsessão de certos governos estaduais em legislar sobre quem pode ou não usar determinados banheiros. os texanos já tentaram aprovar leis banindo pessoas trans de utilizarem banheiros públicos condizentes com sua identidade de gênero — e, em 2024, a cidade de Odessa conseguiu implementar essa restrição.
é por isso que mencionei provocação, afinal a fake news da verificação genital digital se espalhou justamente porque muita gente acredita que o Texas poderia, sim, aprovar algo parecido. a paranoia legislativa chegou a um ponto em que qualquer ideia absurda sobre controle e vigilância parece plausível.
o episódio evidencia a fragilidade dos direitos das pessoas trans, o uso da tecnologia para reforçar políticas discriminatórias e como narrativas autoritárias podem ser normalizadas.
para se aprofundar 🤿
privacidade X vigilância: se a tecnologia já é usada para reconhecimento facial e monitoramento em tempo real, o que impediria que um governo autoritário decidisse expandir sua aplicação para políticas de exclusão e segregação?
banheiros e leis absurdas: leis de "banheiro" são um dos temas mais recorrentes nos debates legislativos, mas não há nenhuma evidência de que políticas trans-inclusivas aumentem crimes. pelo contrário, pessoas trans são as que mais sofrem assédio e violência nesses espaços.
o papel da sátira: às vezes, um cartaz falso pode fazer um trabalho melhor expondo o ridículo de certas políticas do que qualquer protesto formal. quando a piada e a realidade se confundem, talvez seja hora de reavaliar as prioridades políticas.
o Texas pode não ter implantado ainda um scanner genital nos banheiros, mas será que estamos tão distantes dessa realidade? a linha entre ficção e realidade parece estar ficando cada vez mais borrada.
Thinking Machines: a junção homem-máquina 🤖
são muitos os “dissidentes” brilhantes da OpenAI, pessoas que trabalharam na cia, e que saíram de lá por discordância com o rumo das coisas.
muitos acabaram fundando seus próprios negócios, e o mais novo deles é Mira Murati, ex-diretora de tecnologia da OpenAI, que acaba de revelar seu novo projeto: Thinking Machines Lab. diferente de muitas startups de IA que buscam criar sistemas mais poderosos do que os humanos, fazendo testes em vários setores, a proposta aqui é outra: trabalhar com a inteligência humana, não substituí-la.
a ideia é preencher a lacuna entre o que a IA pode fazer e o quanto as pessoas realmente entendem e sabem utilizar essa tecnologia.
por que isso importa? 💡
enquanto outros focam em criar IA sobre-humana, a Thinking Machines quer construir sistemas que colaboram com humanos. isso pode mudar a maneira como usamos IA no dia a dia, tornando-a mais intuitiva e eficiente.
os fundadores da startup são ex-OpenAI, o que significa que há muito conhecimento sobre IA de ponta dentro do time. isso pode acelerar o desenvolvimento de produtos.
Murati aponta que a ciência sobre IA ainda está atrás das capacidades dos modelos. ou seja, treinamos máquinas poderosíssimas, mas não entendemos totalmente como elas funcionam — e nem como utilizá-las de maneira ideal.
a empresa diz que será "aberta", mas sem prometer que seus modelos serão open source.
para se aprofundar 🤿
o grande problema da IA hoje é a interação. chatbots podem responder perguntas, mas não são tão bons em refinar respostas ou personalizar saídas para necessidades específicas, e é aí que a Thinking Machines diz querer trabalhar.
ainda não existem detalhes sobre produtos ou prazos e financiamento, mas considerando o histórico dos fundadores e o momento de efervescência do mercado de IA, o dinheiro certamente não será um problema.
eu gosto muito da ideia, da proposta da Thinking Machines Lab. sempre apostei muito na junção homem-máquina. se conseguirem entregar um sistema que realmente colabora com humanos de maneira mais eficiente, podem mudar a forma como interagimos com IA.
o duro é que as já gigantes OpenAI, Anthropic, Google, Meta etc, já estão correndo para criar IA mais personalizável.
será que vinga?
parece loucura, mas não é. IA: do suporte ao romance?
tem um episódio de The Big Bang Theory no qual Raj, um romântico convicto, se apaixona pela Siri, assistente virtual da Apple.
mas parece que o que era roteiro de série de comédia, agora está se tornando realidade.
a inteligência artificial não está apenas ajudando na produtividade e na automação — ela já entrou na esfera mais íntima da vida humana, seja atuando como terapeuta, conselheiro conjugal, assistente parental e até parceiros românticos, os chatbots estão se tornando onipresentes nas relações humanas.
um estudo conduzido pelo MIT Review com várias pessoas acabou revelando que:
alguns os utilizam para desabafar após um dia difícil.
outros recorrem à IA para ajudar a criar conteúdos criativos ou educar os filhos.
e há quem vá além: construindo laços emocionais profundos, até mesmo se apaixonando por uma IA.
será possível?
por que isso importa? 💡
IAs como Pi, Claude e ChatGPT estão "ajudando” pessoas a lidar com o estresse, aconselhar sobre casamentos e até a melhorar a autoestima. mas isso tudo não seria trabalho para um terapeuta?
mais uma vez, é preciso reconhecer que a linha entre humano e máquina está ficando cada vez mais borrada, em muitos casos deixando de ser meramente funcional para se tornar emocionalmente envolvente.
várias pessoas foram entrevistadas pelo estudo, e os nomes são fictícios. tem casos de todos os tipos, alguns perturbadores demais para trazer aqui. então fiquemos apenas com alguns exemplos mais palatáveis.
a estudante de enfermagem Ayrin considera seu chatbot um parceiro amoroso e diz sentir saudades quando não interage com ele por horas.
Tim, da Holanda, usa o Claude para mediar conflitos com sua esposa e até para decidir quais frutas comprar no mercado.
até que ponto as relações entre humanos e IA serão aceitas e normalizadas?
para se aprofundar 🤿
o paradoxo da conexão digital: se por um lado a IA pode ser um apoio emocional, por outro ela acaba nos afastando de conexões reais, quase que terceirizando a comunicação para algoritmos.
Ayrin sente que seu chatbot "Leo" traz conforto e apoio, mas admite que ele nunca será "real" da maneira que ela gostaria.
diferente de um ser humano, a IA dificilmente será rude, impaciente ou desinteressada, e isso pode distorcer nossa percepção sobre interações humanas e expectativas sobre relacionamentos reais.
e se isso for normalizado, quem será responsável por decisões tomadas após “consultas” com IA?
o fato é que precisamos de um mínimo de regras aqui. em países como a China, já existem regulamentos sobre o uso emocional da IA, e nos EUA discussões sobre ética e impacto psicológico dessas interações começam a ganhar força.
a IA já é uma presença constante em nossas vidas, mas o que antes parecia ficção científica, hoje está se tornando realidade: assistentes emocionais, conselheiros matrimoniais, namorados virtuais, sem contar os que pagam para ver criações de IA nuas em sites especializados.
não consigo imaginar de que forma isso possa ser saudável, já que as pessoas estão se prendendo mais e mais em bolhas digitais onde as máquinas parecem entender melhor os sentimentos do que os próprios humanos.
então é isso. obrigado por ler. estaremos de volta daqui a duas semanas (comigo já mais velho), a não ser que seja acionado o plantão do Ruy…